Monteiro Lobato - 129 anos

Emília, Dona Benta, Narizinho e Pedrinho. Quem não conhece esses personagens? A turma do Sítio do Pica-pau Amarelo foi criada por José Bento Monteiro Lobato, que completaria nesta segunda-feira (18) 129 anos. A obra dele persiste até hoje como referência no campo de literatura infantil brasileira, embora Monteiro Lobato também tenha escrito livros adultos. 

Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882 em Taubaté, São Paulo, e estreou na literatura com pequenos contos para os jornais estudantis dos colégios Kennedy e Paulista, onde estudou. Cursou Direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, mas sempre se dedicou às suas paixões: escrever e desenhar. Ilustrou diversas publicações dos alunos, vencendo um concurso literário promovido em 1904 pelo Centro Acadêmico XI de Agosto. Lobato leu bastante e entrou em contato com a obra do filósofo alemão Nietzsche, cujo pensamento guiou sua obra.

Em 1909, participou de um concurso de cartazes no Rio de Janeiro, colaborando com desenhos para revistas como Fon-Fon e Vida Moderna. Também ilustrou a capa de seu primeiro livro, Urupês. Então, apresentou seu personagem-símbolo, o Jeca Tatu. Preguiçoso e adepto da "lei do menor esforço", Jeca era completamente diferente dos caipiras e indígenas idealizados pelos escritores românticos do início do século 19, como José de Alencar.


PRIMEIROS TRABALHOS -
 Na década de 1910, Lobato se tornou um importantes crítico de arte na cidade de São Paulo. A morte súbita do avô lhe deixou de herança a Fazenda do Buquira, para a qual se mudou com a família. As terras localizadas na Serra da Mantiqueira já estavam esgotadas pela lavoura do café, mas Lobato reergueu o negócio e investiu em projetos agrícolas audaciosos. Escreveu também artigos para O Estado de S. Paulo, como "Uma velha praga", em que denunciava as queimadas no Vale do Paraíba, no final de 1914. 

Quando cansou da monotonia do campo, o escritor vendeu a fazenda e instalou-se na capital paulista. Com o dinheiro, pôde dedicar-se exclusivamente à redação de artigos para jornais da região e livros. Ele colaborou com diversas publicações, mas o que mais o empolgou foi a linha nacionalista da Revista do Brasil, lançada em janeiro de 1916. Ele chegou a comprar a revista e, assim, deu vez e voz para novos talentos, que apareciam em suas páginas ao lado de gente famosa.

Lobato também se envolveu em muitas polêmicas, como no lançamento da exposição de Anita Malfatti, em 1917. Ele criticou duramente a artista, que ficou bastante abalada com as duras palavras de Lobato, chegando a quase desistir da carreira. Apesar disso, sua editora levou aos leitores "O homem e a morte", de Menotti del Picchia, e "Os Condenados", de Oswald de Andrade - autores modernistas. Em poucos anos, Lobato entregou a direção da Revista do Brasil a Paulo Prado e Sérgio Milliet, passando a dedicar-se apenas à editora. Visionário, importou mais máquinas dos Estados Unidos e da Europa.

LITERATURA INFANTIL - No Natal de 1920, surge sua primeira história infantil: "A menina do narizinho arrebitado". Com capa e desenhos de Voltolino, famoso ilustrador da época, o livrinho fez - e ainda faz - o maior sucesso. Então, a turma do Sítio do Pica-pau Amarelo se solidificou como favorita de muitos jovens em novos episódios, tendo sempre como personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia Nastácia e Emília, a boneca de pano falante e arteira. 

Sua intenção era criar aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e lendas do folclore nacional. Seus personagens, depois, misturaram-se com elementos da literatura universal, mitologia grega, quadrinhos e cinema, atraindo as crianças para universos antes desconhecidos. Através do personagem Visconde de Sabugosa, um grande sabe-tudo, o autor transmitia também conhecimentos e idéias de história, geografia e matemática.

As histórias renderam muitas publicações, tiveram muito sucesso; porém, na década de 20, Lobato enfrentou crises em seus negócios. A Revolução dos Tenentes, em julho de 1924, paralisou as atividades da sua empresa durante dois meses, gerando grande prejuízo. Então, seguiu-se uma inesperada seca, com corte no fornecimento de energia - o maquinário gráfico passou a funcionar apenas dois dias por semana. Por fim, com a desvalorização da moeda da época e suspensão do redesconto de títulos pelo Banco do Brasil, Lobato se viu com um enorme rombo financeiro e muitas dívidas. 

NOVOS RUMOS - A única alternativa foi pedir a autofalência, apresentada em julho de 1925. Reergue-se rápido, criando a Companhia Editora Nacional, agora no Rio de Janeiro, onde passou dois anos. Entre as novas edições, estavam traduções de Hans Staden e Jean de Léry, viajantes europeus que andaram pelo Brasil no século 16. Recobrou o antigo prestígio. 

Lobato viajou bastante e escreveu, novamente, para muitos jornais, sobre temas diversos. Em 1927, assumiu o posto de adido comercial em Nova Iorque e partiu para os Estados Unidos, deixando a Companhia Editora Nacional sob o comando de seu sócio, Octalles Marcondes Ferreira. Por quatro anos, acompanhou de perto as inovações tecnológicas e se esforçou para alavancar o progresso da sua terra, trabalhando a favor do estreitamento das relações comerciais entre as duas economias. 

Desafiador, durante a ditadura de Vargas, o Estado Novo, Lobato foi preso. Denunciou as torturas e maus-tratos praticados pela polícia. Após três meses encarcerado, foi libertado graças a uma campanha de intelectuais e amigos, mas continuou sendo perseguido. Em junho de 1941, foi ordenada em São Paulo a imediata apreensão e destruição de todos os exemplares de Peter Pan, adaptado por Lobato. Centenas de volumes foram recolhidos em diversas livrarias e muitos deles, queimados.

Lobato se envolveu com política, aproximando-se dos comunistas e saudou seu líder, Luís Carlos Prestes, em grande comício realizado no Estádio do Pacaembu em julho de 1945. Indignado com o governo Dutra, escreveu Zé Brasil, relato em que Jeca Tatu, preguiçoso incorrigível, vira um trabalhador rural sem terra, lutando contra o latifúndio e a distribuição injusta da propriedade rural. Morreu em 4 de julho de 1948, aos 66 anos de idade, deixando uma grande contribuição às crianças, jovens e adultos.

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